domingo, 30 de setembro de 2007

Manutenção da dor...

Contemplar os fatos
Bons ou ruins, quem sabe
Condição de existência
Ou ao menos a dos poetas
É preciso manter a dor
Sem recolher os estilhaços do amor
Que se alojam no meu peito
A manutenção dos sonhos
Dos amores impossíveis
O alimento dos meus versos
Das minhas letras invisíveis
Poder de transformação
Tornar as pedras mais brutas
Em jóias raras e sensíveis
Basta escrever, amar e lapidar
Não sei se dá pra esperar
Até minha obra acabar
Aí mora a desilusão
Nenhuma esperou o amor ficar pronto
Então parte para novas vidas
Deixando-me só
Na sombra
Na solidão
Na sorte do poeta
Aquele que sorri para o escuro
Pois é lá que ele se perde
Perde-se para o mundo
Acha-se para si próprio
Este é o destino da poesia
Promover o dia ilustre
O encontro de quem perdeu-se
Dentro de outros olhos
De quem não tem mais sangue
Pois já se foi em outras veias
De quem não ouve mais o coração
Aquele que me roubaste
De quem sequer respira
Outro ar que não o seu
Esse sou eu
Sem sangue, sem coração, sem ar
Com a licença do sofrimento
Já que não vai me esperar
Vou aqui escrevendo
Usando do que ainda tenho
Dor, caneta, amor e papel.