sábado, 1 de dezembro de 2012

Afogado num copo...

Queria saber nadar.
Não, antes disso tem algo.
Queria mesmo ter uma piscina.
Tá...
No fundo, no fundo não é nada disso.
Queria um lugar pra me afogar.
Sem parecer de propósito.
Sem parecer num copo.
Sem bebida.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Longe dos "cidadãos de bem"...

Definitivamente, andem longe dos "cidadãos de bem", pois são estes que mais contribuem para estigmatizar e invisibilizar os demais. O conceito de cidadania há muito tempo tornou-se o carimbo de uma espécie de processo civilizacional e que ocorre, ainda, diariamente em todos os espaços sociais em disputa.


É triste ver jovens crucificando outros, com discursos do tipo "somos trabalhadores" e "vocês são vagabundos". Vejo isso consecutivamente há 36 horas e já não tenho mais paciência pra tanta falta de sensibilidade. O caso que mais me enraiva é no que toca a crítica às torcidas organizadas.



"Vândalos", "marginais", "vagabundos", "pirangueiros" são dos principais termos utilizados pela "juventude do bem" para classificar a "juventude perdida". Honestamente, pensem como deve ser difícil não ter um rosto... não ter uma identidade... não ser chamado pelo nome... não ter uma oportunidade... não ter onde encaixar-se... ter apenas rótulos. Rótulos cheios de estigmas e vazios de sentido e de soluções.




As juventudes pobres são invisíveis, como produto de uma sociedade que sempre está disposta a bater o martelo em nome do "bem". Infelizmente, as torcidas organizadas acabam funcionando como grandes trampolins para esses meninos. Estes que não são vistos socialmente, de repente são capazes de chamar a atenção da cidade toda, mesmo que despertando o medo e catalisando uma rede de poder e de violência que possui enraizamentos sociais muito profundos e bem distantes dos estádios de futebol. Essas raízes são frutos de longos processos históricos de exclusão, criminalização e de promoção de pesadas desigualdades. Portanto, pensar na violência desses torcedores apenas olhando para os eventos violentos que eles promovem em grandes jogos é negar-se a pensar em soluções para uma questão que não é de Polícia, mas é verdadeiramente social. Até porque a nossa PM só serve para piorar essa situação, pois só age com mais violência e pulverizando essas massas. 




É preciso abrir a mente e pensar nas trajetórias, histórias e narrativas de todos esses agentes sociais. Quem sabe perder o medo deles e ir em busca disso. Quem sabe exigir menos policiamento e mais ajuda para estes. Quem sabe abrir mais portas ao invés de exigir mais grades. Quem sabe compreender que estes jovens são da mesma faixa de idade que você, que é um juiz de merda que passa o dia inteiro no seu computador tecendo comentários que apenas reproduzem práticas estúpidas de fascismo, assepsia social, higienização e esterilização enquanto eles estão fazendo algo que no momento pouco te interessa, pois não te afeta, de fato.

sexta-feira, 4 de maio de 2012



Terei o prazer de participar do Programa "Sem fronteiras: Plural pela Paz", neste sábado às 14h na Rádio Universitária FM! Discutindo um pouco sobre futebol a partir de uma leitura sociológica, debatendo questões como a elitização do esporte, a Copa do Mundo e seus meandros, as torcidas organizadas, dentre outros pontos importantes. Quem puder ouvir e contribuir, será de bom grado.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Em busca das incertezas...

Taí uma espécie de missão que venho tomando como base em uma nova etapa de vida. Os processos de construção e desconstrução vão muito além de uma afirmação rasteira do que é dialético, materialista e bláblázista. Em muitos dos casos a illusio está presente e fomenta os discursos mais acirrados, imperativos e subversivos, contudo sempre pautados numa velha e arisca certeza de enunciados clássicos. Ora, se o caminho fosse mesmo dado e os grandes princípios fossem mesmo um norte, acredito que a história traçar-se-ia numa simples linha reta. Não há uma consequência lógica nisso. O que se há é um espírito de convicção e certeza baseada numa áurea chamada "ego" ou, inventando aqui, um "ego coletivo". É possível isso? Parece-me que sim. A certeza é das piores convicções possíveis que podemos ter, pois ela nos fecha de outros inúmeros horizontes possíveis da vida. De certo modo, grupos, coletivos, instituições e outros tipos de espaços com iniciais maiúsculas fomentam esse festival de convicções reformadas pelo discurso do "consensual entre nós". Não é isso que busco, tampouco acredito. Minha fé não vem mais na certeza, mas vem do próprio foco da fé: o absurdo. É por princípios de incerteza que me desloco radicalmente. Sem medo de rótulos, nem de ofensas e muito menos de críticas. Afinal de contas, é pra isso que estamos aqui, não? Estamos produzindo e trabalhando em busca de tensões e do endossamento de discussões através da crítica e do seu potencial transformador. O conhecimento é um possuidor dessa potência. E é na criação e recriação e nas várias perspectivas de olhar, ouvir, tocar, sentir, escrever, ler, rever, repensar, criticar, publicizar, refazer, remoldar, reler, reescrever, que mora o nosso jogo... Jogo sem territórios! O nosso jogo é não jogar nas regras de ninguém. O meu jogo é dançar na música deles, mas ouvindo um som completamente diferente. Falar o que se pensa é uma necessidade, sem medo da dor e sem decepcionar-se com as decepções. Assimilar e refletir a partir de posicionamentos diferentes deve ser obrigatório para quem se envolve com questões públicas, nem que seja exclusivamente no âmbito da opinião. Percebo que os rótulos são totalmente opostos a qualquer tipo de sombreamento de liberdade. Não há compatibilidade entre isso: rotular e ser livre. Daí, repensar inclusive nosso papel científico. Repensar essa ciência social, movendo-se dos esquemas de representação e classificação para uma dimensão capaz de pensar e produzir através das práticas. Uma prática das práticas. Sem moldes. Sem contornos. Com mais vida. Passar a não mais taxar e a se expor cada vez mais nos riscos das taxações. Só por isso, já devo ter recebido alguns destes rótulos e provavelmente o mais leve deles é o de "pós-moderno", como já ouvi até por não ter preconceito teórico [regra posta aos doutrinários da modernidade, correto?]. Concebendo isso como algo em construção e em disputa por todos nós que vivemos e pensamos nesse suposto momento presente, não vejo isso como pejorativo. Afinal de contas, é melhor correr o risco de ser um pós-moderno e buscar discutir o que está lá fora, que buscar postulados universais e pô-los embaixo do braço em busca da construção de um mundo em duas cores. Para mim, isto não faz mais sentido. É da incerteza que passo a beber e nela que vou dar sentido à vida. A crítica é a única arma que me resta e a única defesa que tenho das amarras da vulgarização da palavra "liberdade".

sábado, 21 de abril de 2012

Carta de Desfiliação ao PSOL/CE

Hoje, solicitei minha desfiliação do PSOL/CE e escrevi uma carta apontando alguns motivos para esse processo. O grande peso nesse ato é gerado a partir de concepções pessoais, políticas e científicas, acreditando, inclusive, que não há cisão forte entre essas três dimensões humanas. Exponho de maneira sintética alguns destes motivos e também a conclusão do texto logo abaixo: 1) Não tenho condiçõe...s de militar organicamente no PSOL, por não ter tempo disponível o suficiente para isso e não sentir do partido outras possibilidades de participação, como a produção científica-reflexiva-acadêmica, por exemplo; 2) Não vejo mais o PSOL como o instrumento capaz de catalisar lutas sociais prontas a romper com o sistema sociometabólico do Capital que aí está posto, embora aceite a tese de que é o Partido mais viável no momento. Contudo, não concebo participar de uma organização onde as massas não estão contidas. O PSOL, ao meu modo de ver, ainda é um partido formado, quase que exclusivamente, por intelectuais. Precisamos de intelectuais orgânicos, aos moldes de Gramsci, que podem e devem insurgir de diversos horizontes, sobretudo dos populares; 3) Também não posso participar de uma organização que vem nacionalmente reproduzindo uma tendência eleitoral muito complicada. Acredito que o PSOL deveria disputar as eleições para cargos parlamentares, pois estes assentos serviriam como espaço para dar "voz" ao povo e também pela concepção de Estado que possuo e da incompatibilidade de “lutas” que isto, para mim, implica. Porém, me desencanto ao ver o “disputismo” por cargos executivos e também não sinto, como supracitei, o povo representado por essa organização; 4) Sobre a preocupação com as classes trabalhadoras, ressalto que a presença delas é fundamental na luta, até por não acreditar mais no vanguardismo. O PSOL acaba reproduzindo essa lógica ao afirmar em suas propostas os caminhos para as revoluções, mas sem construir isso a partir das bases populares e sem sequer compreender quais revoluções estes espoliados necessitam; 5) Profissionalmente, sinto-me descontente com minha filiação ao Partido. Por ser uma Instituição e ter suas regras, inclusive estatutárias, acabei me engessando e considero ter diminuído meu potencial crítico a respeito da política. Portanto, avalio, inclusive, que minha desfiliação vai resgatar essa minha capacidade de analisar melhor a própria instituição; 6) Preocupo-me e, verdadeiramente, entristeço-me com a postura do Partido com relação à militância estudantil. Hoje, o que vejo presente no cenário do ME é, cada vez mais precocemente, jovens se aproximando dessas grandes instituições partidárias, o que acaba queimando etapas importantes para a formação destes militantes. Para comprovar isto basta verificar as atuais eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Ceará (DCE/UFC), onde temos claramente um embate entre jovens de PSOL e PSTU contra os governistas (PT e partidos da base aliada). Isto, em minha análise, não é nada salutar e ainda infla um discurso sínico de que não há influência partidária nesse processo. O que sabemos que não é verdade. Essa militância não é vivida, mas absorvida. Enfim, ressalto que considero o PSOL o partido mais viável e o que ainda aponta caminhos críticos dentro do cenário político brasileiro. Porém, o que me descontenta não é apenas a Instituição, mas justamente esse cenário. É com ele que desejo romper. Para tanto, preciso de minha liberdade de expressão e opinião restituída e acredito que essa atitude vai me devolver um pouco disso. Não quero ser isolado ao criticar e nem quero desrespeitar regras com que concordei. Se as eleições fossem hoje, sem sombra de dúvidas, meus votos iriam seguramente para o PSOL/CE, por compreender que são os quadros mais capazes na atual conjuntura. Entretanto, acredito que os modelos de organização e de instituição que concebemos já não são mais suficientes, tampouco capazes de promover uma verdadeira tensão emancipatória. Retomo minha produção acadêmica, onde almejo contribuir de uma forma mais coerente nesse processo de transformação. Tenho a convicção de que estamos do mesmo lado de uma trincheira, porém já não fazemos parte da mesma cosmovisão. O conceito de liberdade que venho moldando e descobrindo não combina e nem acrescenta nada sob a ótica de um Partido com "P". Sorte a todos os que permanecem nessa trajetória, obrigado por tudo e que construamos juntos, sempre que possível. Assumo que é na produção de conhecimento que posso resgatar e oferecer a crítica de algum modo à sociedade, não como homem de Partido, mas de Ciência. Isso também é política. “O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”. (Michel Foucault) Abraços radicalmente livres, Márcio Renato Teixeira Benevides Mestrando em Sociologia pelo PPGS/UFC

terça-feira, 17 de abril de 2012

A bem grosso modo...

A bem grosso modo. Os durkheimianos veem uma floresta. Os weberianos enxergam uma árvore e outra árvore. Os marxianos visualizam os lenhadores querendo derrubar tudo. Para resolver a questão: os antropólogos vão à campo e dão voz às humildes árvores; os sociólogos, analisam a relação geral a partir da teoria socioflorestal; os cientistas políticos caçam alguns frutos no chão e, depois da digestão, aplicam alguns questionários; aqueles cientistas sociais pós-modernos vão, no máximo, ficar pensando sobre o tom do verde ou quem sabe escolhendo uma boa trilha sonora pra minha historinha. Ah! Deve ter passado algum filósofo na hora, mas estava procurando algum pássaro ou algo do gênero.