segunda-feira, 23 de abril de 2012

Em busca das incertezas...

Taí uma espécie de missão que venho tomando como base em uma nova etapa de vida. Os processos de construção e desconstrução vão muito além de uma afirmação rasteira do que é dialético, materialista e bláblázista. Em muitos dos casos a illusio está presente e fomenta os discursos mais acirrados, imperativos e subversivos, contudo sempre pautados numa velha e arisca certeza de enunciados clássicos. Ora, se o caminho fosse mesmo dado e os grandes princípios fossem mesmo um norte, acredito que a história traçar-se-ia numa simples linha reta. Não há uma consequência lógica nisso. O que se há é um espírito de convicção e certeza baseada numa áurea chamada "ego" ou, inventando aqui, um "ego coletivo". É possível isso? Parece-me que sim. A certeza é das piores convicções possíveis que podemos ter, pois ela nos fecha de outros inúmeros horizontes possíveis da vida. De certo modo, grupos, coletivos, instituições e outros tipos de espaços com iniciais maiúsculas fomentam esse festival de convicções reformadas pelo discurso do "consensual entre nós". Não é isso que busco, tampouco acredito. Minha fé não vem mais na certeza, mas vem do próprio foco da fé: o absurdo. É por princípios de incerteza que me desloco radicalmente. Sem medo de rótulos, nem de ofensas e muito menos de críticas. Afinal de contas, é pra isso que estamos aqui, não? Estamos produzindo e trabalhando em busca de tensões e do endossamento de discussões através da crítica e do seu potencial transformador. O conhecimento é um possuidor dessa potência. E é na criação e recriação e nas várias perspectivas de olhar, ouvir, tocar, sentir, escrever, ler, rever, repensar, criticar, publicizar, refazer, remoldar, reler, reescrever, que mora o nosso jogo... Jogo sem territórios! O nosso jogo é não jogar nas regras de ninguém. O meu jogo é dançar na música deles, mas ouvindo um som completamente diferente. Falar o que se pensa é uma necessidade, sem medo da dor e sem decepcionar-se com as decepções. Assimilar e refletir a partir de posicionamentos diferentes deve ser obrigatório para quem se envolve com questões públicas, nem que seja exclusivamente no âmbito da opinião. Percebo que os rótulos são totalmente opostos a qualquer tipo de sombreamento de liberdade. Não há compatibilidade entre isso: rotular e ser livre. Daí, repensar inclusive nosso papel científico. Repensar essa ciência social, movendo-se dos esquemas de representação e classificação para uma dimensão capaz de pensar e produzir através das práticas. Uma prática das práticas. Sem moldes. Sem contornos. Com mais vida. Passar a não mais taxar e a se expor cada vez mais nos riscos das taxações. Só por isso, já devo ter recebido alguns destes rótulos e provavelmente o mais leve deles é o de "pós-moderno", como já ouvi até por não ter preconceito teórico [regra posta aos doutrinários da modernidade, correto?]. Concebendo isso como algo em construção e em disputa por todos nós que vivemos e pensamos nesse suposto momento presente, não vejo isso como pejorativo. Afinal de contas, é melhor correr o risco de ser um pós-moderno e buscar discutir o que está lá fora, que buscar postulados universais e pô-los embaixo do braço em busca da construção de um mundo em duas cores. Para mim, isto não faz mais sentido. É da incerteza que passo a beber e nela que vou dar sentido à vida. A crítica é a única arma que me resta e a única defesa que tenho das amarras da vulgarização da palavra "liberdade".