sábado, 21 de abril de 2012

Carta de Desfiliação ao PSOL/CE

Hoje, solicitei minha desfiliação do PSOL/CE e escrevi uma carta apontando alguns motivos para esse processo. O grande peso nesse ato é gerado a partir de concepções pessoais, políticas e científicas, acreditando, inclusive, que não há cisão forte entre essas três dimensões humanas. Exponho de maneira sintética alguns destes motivos e também a conclusão do texto logo abaixo: 1) Não tenho condiçõe...s de militar organicamente no PSOL, por não ter tempo disponível o suficiente para isso e não sentir do partido outras possibilidades de participação, como a produção científica-reflexiva-acadêmica, por exemplo; 2) Não vejo mais o PSOL como o instrumento capaz de catalisar lutas sociais prontas a romper com o sistema sociometabólico do Capital que aí está posto, embora aceite a tese de que é o Partido mais viável no momento. Contudo, não concebo participar de uma organização onde as massas não estão contidas. O PSOL, ao meu modo de ver, ainda é um partido formado, quase que exclusivamente, por intelectuais. Precisamos de intelectuais orgânicos, aos moldes de Gramsci, que podem e devem insurgir de diversos horizontes, sobretudo dos populares; 3) Também não posso participar de uma organização que vem nacionalmente reproduzindo uma tendência eleitoral muito complicada. Acredito que o PSOL deveria disputar as eleições para cargos parlamentares, pois estes assentos serviriam como espaço para dar "voz" ao povo e também pela concepção de Estado que possuo e da incompatibilidade de “lutas” que isto, para mim, implica. Porém, me desencanto ao ver o “disputismo” por cargos executivos e também não sinto, como supracitei, o povo representado por essa organização; 4) Sobre a preocupação com as classes trabalhadoras, ressalto que a presença delas é fundamental na luta, até por não acreditar mais no vanguardismo. O PSOL acaba reproduzindo essa lógica ao afirmar em suas propostas os caminhos para as revoluções, mas sem construir isso a partir das bases populares e sem sequer compreender quais revoluções estes espoliados necessitam; 5) Profissionalmente, sinto-me descontente com minha filiação ao Partido. Por ser uma Instituição e ter suas regras, inclusive estatutárias, acabei me engessando e considero ter diminuído meu potencial crítico a respeito da política. Portanto, avalio, inclusive, que minha desfiliação vai resgatar essa minha capacidade de analisar melhor a própria instituição; 6) Preocupo-me e, verdadeiramente, entristeço-me com a postura do Partido com relação à militância estudantil. Hoje, o que vejo presente no cenário do ME é, cada vez mais precocemente, jovens se aproximando dessas grandes instituições partidárias, o que acaba queimando etapas importantes para a formação destes militantes. Para comprovar isto basta verificar as atuais eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Ceará (DCE/UFC), onde temos claramente um embate entre jovens de PSOL e PSTU contra os governistas (PT e partidos da base aliada). Isto, em minha análise, não é nada salutar e ainda infla um discurso sínico de que não há influência partidária nesse processo. O que sabemos que não é verdade. Essa militância não é vivida, mas absorvida. Enfim, ressalto que considero o PSOL o partido mais viável e o que ainda aponta caminhos críticos dentro do cenário político brasileiro. Porém, o que me descontenta não é apenas a Instituição, mas justamente esse cenário. É com ele que desejo romper. Para tanto, preciso de minha liberdade de expressão e opinião restituída e acredito que essa atitude vai me devolver um pouco disso. Não quero ser isolado ao criticar e nem quero desrespeitar regras com que concordei. Se as eleições fossem hoje, sem sombra de dúvidas, meus votos iriam seguramente para o PSOL/CE, por compreender que são os quadros mais capazes na atual conjuntura. Entretanto, acredito que os modelos de organização e de instituição que concebemos já não são mais suficientes, tampouco capazes de promover uma verdadeira tensão emancipatória. Retomo minha produção acadêmica, onde almejo contribuir de uma forma mais coerente nesse processo de transformação. Tenho a convicção de que estamos do mesmo lado de uma trincheira, porém já não fazemos parte da mesma cosmovisão. O conceito de liberdade que venho moldando e descobrindo não combina e nem acrescenta nada sob a ótica de um Partido com "P". Sorte a todos os que permanecem nessa trajetória, obrigado por tudo e que construamos juntos, sempre que possível. Assumo que é na produção de conhecimento que posso resgatar e oferecer a crítica de algum modo à sociedade, não como homem de Partido, mas de Ciência. Isso também é política. “O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”. (Michel Foucault) Abraços radicalmente livres, Márcio Renato Teixeira Benevides Mestrando em Sociologia pelo PPGS/UFC