sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Aos vivos...

Estranha é a noite
No dia dos mortos
Onde os homens porcos
Debulham suas flores
Aos pés dos corpos
Sem notar que as almas
Já se foram a muito
Deixando tudo oco
Entregues aos vermes
Expostos ao mofo
Se caixas de barro
Ou se banhadas a ouro
Todos se desintegram
Por causa de tanto choro
Como se chorar por fim
Só lhes trouxesse agouro
Quando em verdade
A vontade dos que se foram
É de agradecer por terem ido
Ao encontro da sombra
Já que não há pior morte
Do que a do viver na Terra
Onde homens nem tem mais espírito
Deixando irmãos morrerem de fome
Um aviso aos vivos
Não chorem pelos mortos
Trabalho em vão
Eles já choram por nós
Com pena de cada vida
Que abdicou da igualdade
E assumiu a condição
De uns serem melhores que outros
Se agora é irreversível
O destino também o é
E destina todos os homens
Ao único lugar puro do planeta
Onde os ricos ficam pobres
E ninguém se humilha mais
É a cova
Onde a terra pode encobrir
As angústias cadavéricas
Putrefando os corpos sujos
Num odor de vida eterna.