quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Urbano...

Sou quem se vai
Correndo nas ruas
Engolido pela tua buzina
Um perdido dentro de casa
Dentro do corpo
Sem nada de alma
Não há tempo para pensar
Alguém poderá me atravessar
Sinais de sereno
Chuva ácida, quem sabe
Inalo essa fumaça podre
É lixo, fábrica, cigarros
Tudo cheiro, sabor de escarro
O negócio é correr mais
No meu pé sufocado
De tênis que quer descalçar-se
Sentir a frieza do chão
Mas vai se derreter no asfalto
Parar de fazer tripas em cadaços
Pavimento até no amor
Por onde anda o abstrato?
Até o sentimento é concreto
É massa, é bloco e é reto
Quando a razão do sentir
Seria deixar pelo torto esvair
Sumiram os sentidos
O sol não atura mais
O sono me rejeita todas as noites
Entrego-me de leve ao sistema
Assumo o papel biológico
Bicho urbano insone e sem pena

Para Madjer Ranyery, um bicho urbano com ares de campo!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Murmúrios Deodoro, De mim mesmo...

Maldita quarta-quinta
Que só feriou minha calma
Deixando um quinto da alma em chamas
E queimando o resto sem dó
Proclamou a impaciência de novo
Com a espada insone diária
Sou Marechal da covardia
Até sigo o rumo histórico
Um poltrão acordo comigo mesmo
Serei mais um a fugir do rei
E se ousasse enfrentá-lo
Dava um berro no vácuo
Basta que eu ouça
O som que me acalenta
-Eis a minha amenidade
está de pé a minha República
de todo cidadão covarde
que já faz parte da derrota
e sangra a corda da cidade
Vai ficar guardado o sabor
Do suor que pinguei deitado
Em um dia que até quando dormi
Num abismo fui lançado
Encontrando no fundo um poço
Que no seu fim tinha uma luz
E era fogo
Que incinerou meu sorriso
Mais um dia negro
De brancos olhos cansados

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Big-death feliz...

Vermes às mesas
Cegam pratos às vistas
Mordendo bocas às lambidas
Coçando as peles em cremes
Pulsando a dor decadente
De quem esbanja os sorrisos
Dos dentes que cerram vidas
Sem largar da comida
Eles não têm fome
Mas morreriam para comer
Espíritos podres in vitro
O sentido humano petrificado
E os cachorros lambem os restos
Que para muitos seria o banquete
Se faca fosse estilete
Ou garfo fosse um tridente
Juro que se os fast-foods
Arrancassem dente por dente
Ou instiga-se o vômito
Do lanchinho burguês
Quem sabe os vermes deixassem
Os pobres parasitarem
Lambendo o chão
Na imaginação, nutriria

sábado, 10 de novembro de 2007

Pesos...

Ah! Que vontade de morte
Se viver só me angustia
Até com o amor
Falta-me muita sorte
Não há nada que não traga dor
E junto com a notícia ruim
Vem junto o azar, o vício e o ardor
E a carga que suporta a lágrima
Não tenho que ser forte
Mesmo que com fogo na ponta
Respiro o mal que é meu suporte
Um trago de tudo que é ruim
Voltou a fazes sua função
Apaziguar minha alma
Amaciar meu coração
Tornar denso meus pulmões
Com a máscara da ilusão
É tudo para me enganar
Às vezes controla mais que o cérebro
Sentimento farsante
Que me deixa menos deprimente
Completamente químico
Disfarces de um intransigente
Sei que estou errado
Mas se não fizer, eu choro
E lagrimas corrompem os nervos
Daí vão abrir um buraco na alma
Mostrando o que agora sou
Um frágil covarde
Exposto às moscas
Traído dentro da própria casa
Uma facada no peito
Decepando o sorriso
Evidenciando tripas infelizes
Eu não me perdôo por nada
Por ter sido tolo
E não enxergar meus próprios olhos
Estar vivo é um detalhe
Um retrato da minha noção
Click: sem sentido
Sem sobriedade, sem noção
Um morto em carne viva
.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Como queiram...

Valores pré-cambrianos
Caninos corroem os canos
Na fossa que se acha garganta
Que arranha a voz de esgoto
Engolem os ratos no estômago
Respirando o ar argiloso
Na praia dos seus pulmões
Expiram um líquido viscoso
É lama que vai pra corrente
Pois sangue foi para o intestino
Fazendo um bolo silvestre
De fezes, grilhões e meninos
Arrastam-se por aqueles corpos
Revestido pela banha do egoísmo
Excretam a massa com ódio
Como se defecassem o espírito
Mas foi mais que isso
Algo que o odor já divulga
Foi a alma gordurosa burguesa
Criando sua imagem e semelhança
O retrato de sua essência
Ou merda, como queiram

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Composição...

Preciso fazer uma canção
Que embale minha vida
Sem se prender a um gênero
E não se limite a uma voz
Para que nas horas de tristeza
Venha-me como um tango
Real e capaz de mostrar meu desengano
Mas logo depois da angústia
Escute o barulho do samba
Se a dois, um de raiz
Se só, quero bossa-nova
Em noites de amor que um blues
Nos dias de sol ouço em jazz
Na minha emoção rock n’roll
Ou quando dançar drum bass
Pulsando em um ritmo forte
Em compassos do coração
Que bate em notas da vida
E harmoniza tudo o que é meu
Para essa música não tem aulas
Nada de riffs ou acordes
Porém qualquer um pode sentir
É só respirar bem fundo
Começar a ouvir o silêncio
Pois é lá onde vibram os sons reais
Na freqüência de um amor
Que como um single dos Beatles
Não pára de tocar jamais

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Aos vivos...

Estranha é a noite
No dia dos mortos
Onde os homens porcos
Debulham suas flores
Aos pés dos corpos
Sem notar que as almas
Já se foram a muito
Deixando tudo oco
Entregues aos vermes
Expostos ao mofo
Se caixas de barro
Ou se banhadas a ouro
Todos se desintegram
Por causa de tanto choro
Como se chorar por fim
Só lhes trouxesse agouro
Quando em verdade
A vontade dos que se foram
É de agradecer por terem ido
Ao encontro da sombra
Já que não há pior morte
Do que a do viver na Terra
Onde homens nem tem mais espírito
Deixando irmãos morrerem de fome
Um aviso aos vivos
Não chorem pelos mortos
Trabalho em vão
Eles já choram por nós
Com pena de cada vida
Que abdicou da igualdade
E assumiu a condição
De uns serem melhores que outros
Se agora é irreversível
O destino também o é
E destina todos os homens
Ao único lugar puro do planeta
Onde os ricos ficam pobres
E ninguém se humilha mais
É a cova
Onde a terra pode encobrir
As angústias cadavéricas
Putrefando os corpos sujos
Num odor de vida eterna.