quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Clássico: duas torcidas? Uma breve opinião...

Diversas opiniões surgiram e repercutem diariamente sobre os próximos clássicos entre Fortaleza e Ceará no estádio Presidente Vargas. Todavia, é preciso ter cautela e ser bem crítico acerca dos diversos pitacos que povoam esse importante elemento cultural, político e econômico: o futebol. A história se arrasta desde a reabertura do estádio e, assim como a morosidade para a entrega do PV, já se tornou um novo folclore na boca do povo.
Das opiniões favoráveis ao clássico rei, tem-se como figurantes: os entusiastas da mídia (chamarizes de torcedores e, via de regra, relacionados de maneira parcial com dirigentes de clubes), os torcedores mais apaixonados (incapazes de perder as partidas de seus clubes, mesmo se fossem realizados na Faixa de Gaza) e aqueles que lucram com isso: os dirigentes dos clubes e também da Federação Cearense de Futebol.
Nesse primeiro grupo, questões como a segurança dos torcedores ou as condições para o deslocamento e acomodação do público são postas à margem. Aí, o que mais importa é a festa nos bolsos e nas arquibancadas. Logicamente, que é compreensível, tendo em vista que a renda obtida nas bilheterias dos jogos ainda representa uma porção substancial da receita dos atrasados, em termos de gerência, clubes cearenses.
Do lado contrário, encontro muito os que, de certo modo, procuram uma imparcialidade na imprensa - que não precisam "jogar para a torcida" -, mas que fazem alarde e terrorismo, sobretudo, quanto à segurança. O Ministério Público também vem se manifestando contra a questão, mas sempre de maneira informal, o que acaba deixando a questão ainda em aberto, já que sua palavra, teoricamente, seria a última. Também há o discurso dos moradores do Benfica, um bairro de classe média da cidade de Fortaleza e que vem sendo historicamente vítima de confrontos entre torcedores (sobretudo das organizadas) nas ruas do bairro. Além disso, há uma questão estrutural do bairro, que não possui, por exemplo, estacionamentos adequados para a recepção dos torcedores.
Ao que me parece, a segunda opção, via de regra, fantasia-se de uma opinião mais técnica e de cunho racionalizado, como se dissesse: "vejam, os dados não mentem". Todavia, o que deve-se tomar em conta, de fato, nessa questão é a opinião de caráter classista, que também permeia as discussões sobre o clássico no PV. Dizer que jogos entre Ceará e Fortaleza não podem ser realizados no PV pela característica urbana do bairro. Ora, onde o Castelão se localiza? Quantos confrontos, arrastões e carros apedrejados não já se viram nas cercanias do Castelão? A diferença é que as "pedras" agora se dirigiriam a "outras vidraças". Portanto, acredito que por trás desses argumentos tecnicistas, esconde-se um velho preconceito de classe. Aquele preconceito que vê, por exemplo, as torcidas organizadas como "marginais" isolados da "bolha social" em que habitam, dignos de uma dura e ríspida higienização. Colocá-los meramente como marginais é como negar-se à responsabilidade de vivenciar os mesmos problemas que eles. Eles são produtos, mas não só isso, também são agentes sociais de extrema importância. Afinal de contas, as ações de vandalismo e violência das torcidas organizadas, acredito eu, nada mais são que expressões claras do reflexo de tanta injustiça social e desigualdades diversas neste país.
Baseado nisso, me posiciono como favorável à realização do clássico rei com duas torcidas por três motivos fundamentais:
1) A segurança pública deve ser obrigatoriamente garantida pelo Poder Público. Para tanto, basta usar menos o porrete e mais estratégias de inteligência policial. Até soa estranho falar isso, pois muitos de nós sequer sabíamos da existência desse segmento na Polícia Militar.
2) O problema da violência deve ser resolvido no seu cerne, até porque ele é quase como um elemento obrigatório em todos os campos sociais. Portanto, o "proibismo" apenas deslocaria os conflitos para outros espaços, como os terminais de ônibus, os bairros vizinhos ou as proximidades das sedes dos clubes e das torcidas organizadas.
3) Não há coisa mais linda do que um estádio lotado em um clássico e com as duas torcidas cantando apaixonadas durante os 90 minutos.
O Futebol - com "F" maiúsculo mesmo - tem que voltar a soar não como um câncer social, mas como uma festa tão gostosa e tão apaixonante como o Carnaval. É preciso cada vez mais lutar por melhorias nesse esporte que, fantasticamente, no Brasil tem um caráter extremamente popular. Devemos lutar contra a elitização do futebol e que ele dê condições para o público que mantem a paixão viva, mesmo com tanto destrato.