terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O preparo do método...

A Metodologia de uma pesquisa sociológica deve ser o espaço mais covarde e mais corajoso ao mesmo tempo. É lá onde o pesquisador pesquisador se blinda e se mostra como agente de carne e osso simultaneamente. A pesquisa é como um preparo de alimentos e é na análise dos procedimentos metodológicos que se expõe os ingredientes ainda crus e como eles se tornarão uma refeição preparada. Como diria Leonardo Sa, a Metodologia da Pesquisa é a verdadeira cozinha.

Ainda sobre a "cansada" polêmica do clássico no PV...

Já deixei muito claro meu posicionamento acerca dessa questão em outra ocasião, diga-se de passagem, gentilmente publicado na coluna de Bruno Formiga. Contudo, alguns detalhes não me foram bem esclarecidos (e provavelmente para ninguém interessado).
Primeiramente, queria entender se essa história de que "o Ministério Público é quem decide" realmente tem fundamento. Compreendendo que este órgão não tem alçada para execuções, mas situa-se mais no âmbito da fiscalização e posteriores recomendações e possíveis ajustamentos. Será que a Federação Cearense de Futebol não é soberana para tais decisões? Lembro ter ouvido o presidente Mauro Carmélio comentar isso em outra ocasião, não? Enfim, esta é uma questão mais legalista.
Em segundo lugar, fico me questionando se essa mudança de opinião do Ceará Sporting Club realmente deu-se pela justificativa apontada pela diretoria. Já ouvimos diversos comentários sobre o assunto e isso não anda me cheirando muito, até pela pouca credibilidade que os nossos, ainda amadores, dirigentes possuem.
Em terceiro plano, onde entra o Poder Público nessa história. Ou seja, onde estão os reais executores e administradores da cidade: Secretaria de Esportes (em cima do muro), Prefeitura Municipal (omissa), Polícia Militar (confusa e, em momentos, com medo).
Enfim, algumas questões que estão irritantemente sem respostas. Parece-nos mais uma novela cansada do folclórico futebol cearense, que nos aborrece pela incompetência dentro e fora de campo, mas nos alegra por ser apaixonante e ainda alimentar as conversas nas calçadas e mesas de bar.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Gole ardente...

Cachaça é como um verso
Que regozija-se por estrofes
De verso em verso
De gole em gole
À cada rodada
Há uma sensação sensata
Pois desce ardendo
Engole-se rimas
Engolimos todos
Num sopro de saudade
Sem sentir falta
Pois só o que falta
É o que faz falta
Agora? Andar pra frente
Não tem remédio
Porém receita
Peço mais uma dose
E um cinzeiro limpo
Pra sujar e gastar
Ao passo que se limpa a alma
Economizando juízo
É gole...
Também amor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Clássico: duas torcidas? Uma breve opinião...

Diversas opiniões surgiram e repercutem diariamente sobre os próximos clássicos entre Fortaleza e Ceará no estádio Presidente Vargas. Todavia, é preciso ter cautela e ser bem crítico acerca dos diversos pitacos que povoam esse importante elemento cultural, político e econômico: o futebol. A história se arrasta desde a reabertura do estádio e, assim como a morosidade para a entrega do PV, já se tornou um novo folclore na boca do povo.
Das opiniões favoráveis ao clássico rei, tem-se como figurantes: os entusiastas da mídia (chamarizes de torcedores e, via de regra, relacionados de maneira parcial com dirigentes de clubes), os torcedores mais apaixonados (incapazes de perder as partidas de seus clubes, mesmo se fossem realizados na Faixa de Gaza) e aqueles que lucram com isso: os dirigentes dos clubes e também da Federação Cearense de Futebol.
Nesse primeiro grupo, questões como a segurança dos torcedores ou as condições para o deslocamento e acomodação do público são postas à margem. Aí, o que mais importa é a festa nos bolsos e nas arquibancadas. Logicamente, que é compreensível, tendo em vista que a renda obtida nas bilheterias dos jogos ainda representa uma porção substancial da receita dos atrasados, em termos de gerência, clubes cearenses.
Do lado contrário, encontro muito os que, de certo modo, procuram uma imparcialidade na imprensa - que não precisam "jogar para a torcida" -, mas que fazem alarde e terrorismo, sobretudo, quanto à segurança. O Ministério Público também vem se manifestando contra a questão, mas sempre de maneira informal, o que acaba deixando a questão ainda em aberto, já que sua palavra, teoricamente, seria a última. Também há o discurso dos moradores do Benfica, um bairro de classe média da cidade de Fortaleza e que vem sendo historicamente vítima de confrontos entre torcedores (sobretudo das organizadas) nas ruas do bairro. Além disso, há uma questão estrutural do bairro, que não possui, por exemplo, estacionamentos adequados para a recepção dos torcedores.
Ao que me parece, a segunda opção, via de regra, fantasia-se de uma opinião mais técnica e de cunho racionalizado, como se dissesse: "vejam, os dados não mentem". Todavia, o que deve-se tomar em conta, de fato, nessa questão é a opinião de caráter classista, que também permeia as discussões sobre o clássico no PV. Dizer que jogos entre Ceará e Fortaleza não podem ser realizados no PV pela característica urbana do bairro. Ora, onde o Castelão se localiza? Quantos confrontos, arrastões e carros apedrejados não já se viram nas cercanias do Castelão? A diferença é que as "pedras" agora se dirigiriam a "outras vidraças". Portanto, acredito que por trás desses argumentos tecnicistas, esconde-se um velho preconceito de classe. Aquele preconceito que vê, por exemplo, as torcidas organizadas como "marginais" isolados da "bolha social" em que habitam, dignos de uma dura e ríspida higienização. Colocá-los meramente como marginais é como negar-se à responsabilidade de vivenciar os mesmos problemas que eles. Eles são produtos, mas não só isso, também são agentes sociais de extrema importância. Afinal de contas, as ações de vandalismo e violência das torcidas organizadas, acredito eu, nada mais são que expressões claras do reflexo de tanta injustiça social e desigualdades diversas neste país.
Baseado nisso, me posiciono como favorável à realização do clássico rei com duas torcidas por três motivos fundamentais:
1) A segurança pública deve ser obrigatoriamente garantida pelo Poder Público. Para tanto, basta usar menos o porrete e mais estratégias de inteligência policial. Até soa estranho falar isso, pois muitos de nós sequer sabíamos da existência desse segmento na Polícia Militar.
2) O problema da violência deve ser resolvido no seu cerne, até porque ele é quase como um elemento obrigatório em todos os campos sociais. Portanto, o "proibismo" apenas deslocaria os conflitos para outros espaços, como os terminais de ônibus, os bairros vizinhos ou as proximidades das sedes dos clubes e das torcidas organizadas.
3) Não há coisa mais linda do que um estádio lotado em um clássico e com as duas torcidas cantando apaixonadas durante os 90 minutos.
O Futebol - com "F" maiúsculo mesmo - tem que voltar a soar não como um câncer social, mas como uma festa tão gostosa e tão apaixonante como o Carnaval. É preciso cada vez mais lutar por melhorias nesse esporte que, fantasticamente, no Brasil tem um caráter extremamente popular. Devemos lutar contra a elitização do futebol e que ele dê condições para o público que mantem a paixão viva, mesmo com tanto destrato.

É preciso abrir novas frentes...

Confesso que fiquei bastante irritado com o sensacionalismo do programa, começando pela escolha do título do vídeo, e com a capacidade de estimular comentários higienizadores e classistas que possui o apresentador, através de uma abordagem extremamente violenta e irresponsável, transpassando, inclusive, o limite do simbólico. Todavia, não podemos deixar de comentar e analisar o que se passa nesse vídeo. Uma realidade local, capaz de envolver diversas camadas de poder. Vemos aí uma relação que não se limita à prostituição e "consumidores" (não sei um termo mais adequado). Temos uma ligação direta com tráfico de drogas, conivência e extorsão policial, dependência química e outras questões da saúde, inexistência de soluções (ou sequer de olhares) por parte do poder público, inerte atuação comunitária no sentido da passividade ao fato, a influência da mídia na formação de uma opinião de crítica atrofiada e de juízo de valor hipertrofiado, dentre outras dimensões. O que nos resta discutir de que maneiras e em que frentes podemos nos movimentar em prol de todas as vidas humanas contidas nesse ciclo além de sermos meros telespectadores? Honestamente, não sei a resposta. Contudo, não quero permanecer apenas assistindo e depois mudando de canal.

Veja o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=oi6-sCvtjhw

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Polícia e policiais...

Quando vejo atuações como essa da PM no interior de São Paulo, reflito o quanto estamos numa contramão complexa quanto discutimos política de segurança. Não bastasse o aval do Estado, a presença truculenta da Polícia Militar também recebe a chancela dos grandes veículos de comunicação, que reproduzem alguns chavões como "invasão" ou "depedrando o patrimônio público". É preciso começar a se fomenta...r discussões acerca da desmilitarização dos militares ou continuaremos assistindo a barbáries como essas. Difícil inclusive pensar na atuação dos policiais dentro da polícia, pois isto não tem força sem um olhar mais global. Nota-se que os mesmos policiais que ora reivindicam-se como trabalhadores são aqueles que rasgam essa reivindicação pelo simples dever à hirarquia. Penso que o processo de desmilitarizar a PM deve partir dos próprios policiais, aí sim configurando uma subversão positiva dos PM's! O maior arrastão que os policiais poderiam dar no Estado seria agindo como trabalhadores da segurança pública, que se negam a agredir todos e quaisquer trabalhadores. A hierarquia pode até ser um valor importante, mas jamais deveria superar a ética e o respeito à vida.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Resistência e sem açúcar...

Resistência... Resistência... Palavra boa até o momento em que resiste... Diria agradável para quem exige. Não resistir, às vezes, também é forma de resistência. Ter coragem pra sentir e desistir de resistir também é forma de resistência. Se abrir, não ponderar (já ponderando) e simplesmente fazer o que deve ser feito é uma expressão concreta da resistência cotidiana. Onde quero chegar com isso?
Em parte alguma (parte). Não precisei chegar. Não necessitei sequer de uma explicação. Dispensaram-me as notas de rodapé. Aliviaram minhas justificativas para simplesmente religar os fios, como se eles nunca tivessem se partido. E não. Nunca mesmo. Eles apenas, por diversos momentos, não resistiram. Ou se guardaram para voltar a persistir. Sim, onde mesmo quero chegar com isso?
Em algum lugar (algum). No local em que a saudade mora. No canto onde a saudade lateja e me faz gritar com sorrisos amorosos ao dizer: eu não resisto a vocês!
De fato, não resisto e só por isso sou assim. Somos assim, né?
Para minhas irresistíveis, Mariana Guanabara e Eudenia Magalhães, aquelas que voltam sem sequer ter ido. Fazem falta até quando sempre estão. Comigo. Juntos. São goles. São abraços. São risos. São afagos. São laços. São fortes. São bravas - e brabas -. São aquelas as quais todo poema se rende e toda prosa se enquadra, de modo a fazer chover avião na Zona Rural de Acopiara.
Obrigado pela(s) noite(s) e pela vontade incessante de me fazer acordar cedinho com cheiro de "café, café, café, café...", com cheiro de bom dia...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

1ª reunião para a criação do Sindicato dos Sociólogos do Estado do Ceará - 17/01/2012 - UFC.

Iniciou-se a reunião comentando acerca da ideia que vem sendo amadurecida fortemente desde o último ENCISO. Foi discutido e concordado que seria mais viável a criação de um Sindicato do que uma Associação, tendo em vista que esta é uma demanda histórica da categoria e contemplaria uma gama maior de profissionais da Sociologia, além de possuir um forte caráter político e que beneficiaria, em tese, até os que não fossem associados. Então, demarcou-se uma comissão formada pelos professores Estevão, Nágila e Wellington.
O fato é que consideramos necessária a aglomeração do maior número de pessoas o possível e que abranja o máximo de funções destes profissionais, indo além dos que estão contidos nos setores acadêmicos e de pesquisa. Portanto, é preciso buscar os sociólogos que atuam em diversas frentes, como os que estão no Poder Público, em ONG's e até mesmo no setor privado. O que se constata nesse tipo de leitura é que é preciso imprimir, de fato, uma identidade de sociólogo, algo que não se vê atualmente.
Também consideramos que os procedimentos burocráticos para a criação de nosso Sindicato não são tão complexos, mas que nosso maior desafio é a mobilização da categoria, que segue dispersa. Foi feito um breve repasse histórico desta demanda que existe no Ceará desde meados da década de 1970. O fato é que mesmo com a lei que regulamenta a profissão, sempre se preocupou apenas com a academia.
Acreditamos que a sindicalização serviria para atrair mais profissionais, além de organizar melhor a categoria, trazer lutas pelo reconhecimento profissional, pela melhoria dos currículos, pela defesa e o fortalecimento da Sociologia no Ensino Médio dentre outros fatores. Portanto, constatamos que sempre militamos em diversas frentes, menos na de nossa própria categoria. Agora é a vez de lutarmos por um Sindicato forte, que traga elementos importantes como a unicidade e a estadualização.
A questão da licenciatura também entrou em pauta. Não se sabe ainda (ficou-se de averiguar) se os profissionais apenas licenciados poderiam participar legalmente do Sindicato. Todavia, esses meandros jurídicos podem até ser impeditivos para o registro legal dos professores de Sociologia, mas certamente não impedirão que lutemos para que a categoria atue como uma força só, englobando bacharéis e licenciados.
O que posso concluir desta reunião é que o momento mais propício para a criação deste Sindicato é o que vivemos agora. Nota-se fortemente as mudanças na sociedade que estão permitindo um certo reconhecimento da profissão, até como um movimento de defesa de mercado profissional. Logo, é preciso convocar a categoria como um todo (englobando inclusive o máximo de colegas do interior) para mobilizar a fomentação de nosso Sindicato.
Finalizando esta reunião foram definidos os seguintes encaminhamentos:
1) A criação de cinco comissões (a princípio e aberta para interessados): Documentação e Memória (Adelita, Auxiliadora, Neuma, Laís e Marcos Paulo), Mobilização e Comunicação (Pedro, Wellington, Nágila, Edson e Róbson), Organização e Finanças (Márcio Renato e Nágila) e Jurídica (Joanns e Estevão). As comissão supracitadas já devem iniciar seus trabalhar a fim de garantir a execução da proposta do encaminhamento seguinte.
2) No dia 06 de fevereiro de 2012 às 18h30 no Auditório Luiz de Gonzaga do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará ocorrerá uma reunião ampla da categoria discutindo pontos importantes para a criação do Sindicato, como a reconstrução histórica dessa luta, os repasses das comissões formadas neste momento e a constituição do Sindicato, dentre outros pontos.
É preciso que a partir de agora todos nós começarmos a mobilizar a categoria para que no dia 06 consigamos um auditório lotado. É necessário expandir os horizontes vislumbrados nessa primeira reunião para o maior número de frentes e locais possíveis. A partir do potencial criativo e da disposição de todos nós será possível garantir que o Sindicato finalmente seja constituído.
Abraços a todos e a todas,
Márcio Renato Teixeira Benevides
Sociólogo

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Falcatruas do sentir...

Silêncio corrupto
Corrói minha voz
Desvia o que penso
Finge e omite o que sinto
Não fiz o que disse
Nem disse, pois não fiz
As palavras se incham
Se prendem na garganta
Sufocam minhas intenções
Queimam meu devir
Uma gastrite causada
De sentidos visados
Por uma atitude ingênua
Da inocente crueldade
Doce amargo sem dó
Azedo ácido penar
Que as horas passem
Sem pudor
Que o dia morra
No amar
E que tudo volte
A ser como antes
Até a próxima vez