quarta-feira, 8 de abril de 2009

Dia de Mariana...

Ê Cientistas Sociais! É melhor dar dinheiro, mas nunca dê liberdade a eles, ainda mais se andarem em bandos. Falo isso por que hoje vou contar como foi o dia de uma grande amiga, sob os olhos de alguém que se sente à vontade para pensar.
Tudo começou quando, ao final da aula da nossa querida AntropoLéa, decidimos ir todos juntos fazer nossas inscrições para o ERECS (Eudênia, Eu e Mariana [...]. ), pois nossas colegas Ana e Luan não puderam nos acompanhar na ocasião. Então fomos todos, curtindo um dia bem ensolarado, almoçar no RU ao brinde de uma coca de 600ml.
Mariana, de início revela-se um pouco perdida dentro do restaurante universitário, sem saber o preço do almoço, onde pegar a bandeja ou também no momento em que quase entrou pela porta da despensa ao procurar o banheiro feminino. Mas isso ainda parecia apenas algo normal para quem há tempos não ia ao lugar.
Em seguida, decidimos ir até a Agência da Caixa Econômica Federal do Shopping Benfica para efetuarmos o pagamento da inscrição de nosso encontro, só que, após ser barrada três vezes pela porta giratória, Mariana descobre uma fila impressionante e nos dá a idéia de efetuar o pagamento então em uma casa lotérica.
Seguimos nossa amiga e fomos até a casa lotérica, que se encontra na parte externa do shopping (sendo que Mariana também se enrolou no trajeto, pois ao sair do banco foi em direção contrária, mas logo assumiu que sempre se perde dentro do Shopping Benfica). Ok. Normal.
Na Casa Lotérica, a fila era realmente bem menor, então daria tudo certo para fazermos nossas inscrições... Papo vai e papo vem, esquematizamos uma estratégia de garantir um bom fluxo na fila, falamos de propaganda, música, fome e jogos de azar, até que chegou nossa vez... “Nossa vez” lê-se a minha e a de Eudênia, pois, quando Mariana foi pagar, a senhora do caixa graciosamente nos comunica que o limite de depósitos foi atingido.
Desapontados, curtindo o melancólico som do homem que quebrava o asfalto, ouvimos mais um desabafo de nossa protagonista que desta vez nos clama ajuda para ir até a biblioteca, pois ela já no 3° semestre resolveu pegar um livro naquelas dependências. Soou um pouco estranho, mas como a amamos, procuramos entendê-la como alguém que prefere comprar seus livros ou não teve mesmo tempo de visitar a biblioteca em um ano e meio de curso.
Ao chegar lá, ensinamos a protagonista a localizar os livros nas prateleiras e de uma forma bem divertida ela aprendeu e nos agradeceu bastante. Após isso ainda tivemos que encarar a fila para fazer os empréstimos dos livros por ela escolhidos. Aí quando chega sua vez, Mariana adianta-se, saúda o funcionário, que diz:
- Matrícula!
Mariana, deslumbrada com o momento verbaliza em alto e bom som:
- 0-2-9-9-3-5-9.
Ela e o funcionário se entreolham, até que ele desvia seus olhos para a “maquininha de digitar o número da matrícula”, então eu e Eudênia não nos seguramos e decididos dar aquela graciosa “mangada da cara dela”. Tudo bem, dar uma chance para o novo, não é amiga? Quem sabe não fosse só uma maneira de protestar sobre problemas no funcionalismo público. Após isso, descemos correndo pela rampa de acesso para deficientes físicos.
A empolgação era tamanha que Mariana quase ia embora sem a sua bolsa que pusera no guarda-volumes. Tudo bem, pois é só mais uma distração. Em seguida o sorriso de Mariana que belamente despontava, dá uma leve amarelada ao olhar para a porta e ver que caia uma “baita” chuva. Eu como sou um novo incentivador da ousadia e da felicidade resolvi sugerir que fossemos na chuva.
Elas aceitaram. Cigarros e livros devidamente guardados, decidimos nos molhar nesse grande mundo. Alguns “passos regados a risadas” depois, Mariana dá-se conta de que naquele momento ela calçava uma linda sandália de camurça e que, posteriormente, os resultados seriam um tanto quanto descartáveis, além de ter demonstrado um leve arrependimento de sair na chuva, pois ela iria para a reunião do PET na mesma tarde.
Sei que seria uma reunião molhada, amiga Mari! E deve ter sido. Depois de tudo isso, também molhado, decidi “dar a Elza” na minha aula de francês e vir para casa me secar. Quando chego, olho meu celular e encontro uma mensagem de nossa heroína contando que quase quebrou a chave da sala do PET ao tentar entrar.
A vontade era muito grande, eu sei.
Acho que hoje foi um dia da garota que se arriscou, sabia? Arriscou a fazer coisas que há tempos não fazia ou que nunca fez. Ela encarou as filas, as fomes, as águas, os tempos, os desafios, as novidades, as risadas indesejadas, os materiais que quando molham estragam, os caminhos que parecem muitas vezes os corretos, as máquinas que substituem o diálogo... Enfim, ela foi e nos acompanhou nessa tarde que sempre me fará dizer que há um “Dia de Mariana”.
Embora pareça ser trágico ou ao menos algo que parece azar, dias como esses só são vividos pelos ousados e por aqueles que não impõem barreiras ao próprio sorriso, mesmo que a custa de muitos contratempos supracitados. Parabéns, amiga Mariana, pois a cada dia minha admiração por você aumenta e o perfume ATELEANO nos une cada dia mais. E aos nossos colegas ausentes, que também estão embebidos nesse perfume, lhes cabe o direito de sábado “frescar com a cara dela” com expressões como “Matrícula!”.
Um beijo, Mari, que me permitiu escrever isso e exercitar o meu ócio forçado em prol da história da menina que fez o povo se aglomerar em filas, fez os equipamentos roubarem os caracteres, fez a chuva aguar até quem não queria e descobriu o novo mundo que sempre esteve incompleto até que ela desse o ar da graça.
Viva ao dia de Mariana, a menina que também me fez deixar o Lévi-Strauss de lado para falar dela. Agora vem o sono... nada de livros, por hoje ao menos.