sábado, 26 de dezembro de 2009

Entre os dedos e as luvas...

- Impressionante como me caibo em ti (Dedos)
- Que nada! Fui feita para ti (Luvas)
- E o conforto dos meus movimentos... (Dedos)
- Eu sei, é como se eu nem existisse (Luvas)
- Só não entendo por que às vezes me apertas (Dedos)
- Ora, bem por que se estica demais (Luvas)
- Mas não era feita para mim? (Dedos)
- Sim, porém para ti curvado (Luvas)
- Pensei que fosses de um material flexível (Dedos)
- Sim, sou (Luvas)
- Então o que há? (Dedos)
- É o que está entre nós (Luvas)
- Apenas ar... (Dedos)
- Há muito ar entre você e eu... são ares (Luvas)
- E faz mal respirar? (Dedos)
- Se outros ares, sim. Não saberei te aceitar assim. (Luvas)
- Acho que te entendo, mas você não compreendeu (Dedos)
- E o que haveria de compreender? (Luvas)
- Que por mais outros ares surjam eles só circulam entre mim e você (Dedos)
- Ah! É como se nossos gestos fossem o próprio mundo... (Luvas)
- É! E acenando para o futuro que estamos trilhando... (Dedos)
- Pois venha... (Luvas)
- Com certeza, para dentro e para além. (Dedos)
- Em gestos de ... (Luvas)
- ... um amor sincrônico. (Dedos)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Crônica crítica aos critérios: do crisântemo ao cri-cri, cru e cruel...

É interessante esperar que as coisas esfriem para se analisá-las. Sendo que de tudo, o que mais deve estar, de fato, frio é a cabeça de quem vai contar. Portanto, a partir dos dois últimos tópicos que mais tivemos comentários nessa comunidade, resolvi contar um pouco do fato ocorrido comigo. Inicialmente, agradeço aos que me encorajaram na escrita desse pequeno texto: meus cigarros e meus amigos... incluindo professores e estudantes. Espero que a lucidez perpasse a minha ironia e apenas se apresente em forma de fatos. Oremos...
Bom, era para ser apenas mais uma disciplina obrigatória de nosso currículo, sendo que obrigatória com “O” maiúsculo. Compreender o pensamento político brasileiro é algo muito interessante e prazeroso para os cientistas sociais, mas por questões inteiramente pessoais não gostava da temática, porém sabia que devia aprender (o que também aconteceu com os pensadores evolucionistas e com os das teorias do individualismo metodológico)... Todavia, aprender sempre foi um desafio para mim e acredito que para todos aqueles que se matriculam em um curso como Ciências Sociais.
No começo, a freqüência nas aulas era algo também obrigatório como a disciplina. Nossa assiduidade era cobrada através da moderna ferramenta conhecida por chamada. Desde o início das aulas, a metodologia utilizada pelo professor era a de seminários expositivos e interruptivos, tendo em vista que o professor sempre interrompia os expositores para fazer colocações acerca dos autores abordados. A idéia era que em cada aula fosse apresentado um novo autor dessa vasta obra do pensamento político tupiniquim. Porém, por motivos já conhecidos por todos nós, um só autor chegava a ocupar em média três aulas, fato esse que desestimulava a presença nas aulas (imagina aí vir duas semanas e ficar ouvindo algo sobre o Bielchowsky!?) e também atrasava bastante a disciplina, fazendo, por exemplo, a última aula conter uns quatro autores de uma só vez.
É interessante também frisar que em meados de setembro, o ministrante da disciplina resolveu desabafar em sala de aula dizendo que “não iria fingir que dava aula, enquanto os alunos fingiam que aprendiam” e que, portanto, não iria mais manter as cobranças atuais (chamada e participação). O professor falou que quem não se “interessasse” pelo bendito pensamento político brasileiro não precisaria ir à aula, bastando apenas entregar o ensaio (único e final) na data que seria marcada.
Um forte discurso que eu e a torcida do Fortaleza toda abraçou. Isso mesmo. Nunca tinha vista algo ser acolhido tão ao pé da letra. De repente, as aulas foram esvaziadas. Não é exagero. Chegamos ao ponto em que nas últimas aulas, tinham a presença de apenas 10 alunos (de um total de 47), sendo que 7 deles iriam apresentar seminário nesse dia. Ou seja, os estudantes estavam, de fato, confiantes em que bastava um bom ensaio para acrescentar os medíocres 4 créditos em seu currículo... incluo-me com falsa culpa nesta mediocridade.
Todavia, faltando uma semana para o fim das aulas, o já magoado professor comenta em sala de aula que era bom que todos os alunos começassem a estudar todos os textos da ementa, pois a grande maioria da turma ficaria de AF (Avaliação Final). De repente, em meio aos alunos cada vez mais sem luz, surge uma voz à La Lombardi que diz: “Professor, como o senhor sabe disso se os ensaios ainda não foram nem entregues?”... O Professor então responde dizendo que era uma “tendência”, tendo em vista que os alunos não estão acompanhando o desenrolar da disciplina.
Ora. Ora. Ora. Ora. Estaria esse professor fazendo uma profecia que só os doutores seriam capazes de fazer? Algo como que fruto da mente de um semi-deus? Exato! Ele estava correto. É tanto que das 47 criaturas matriculadas, apenas 10 foram diretamente aprovadas. Ou seja, 79% da turma ficou na espada da AF. Agora era a hora de desesperar-se, pois aquele aviso digno de qualquer Talibã acabava de tomar uma concretude e agora era realidade. Tínhamos que estudar todos os textos da ementa (um número tranqüilo, que não chega a 30)... E em apenas quatro dias, pois o resultado saiu no domingo e a prova foi quinta.
Foi nesse período que os estudantes dessa disciplina criaram um laço de solidariedade que eu nunca havia presenciado em dois anos de curso. Criamos um grande grupo de estudos, abarcando quase a totalidade dos “reprovandos” e fomos à luta. Fizemos esquemas de seminários, onde todos apresentavam os autores que mais dominavam e também discutimos os autores em uma lógica de contexto e até linha histórica da formação do pensamento. Um sucesso! É tanto que apenas 9 pessoas foram reprovadas, após a prova.
Porém, nem tudo é perfeito no reino de Alice. Eu fui um dos que não foram contemplados com a aprovação. Não fiz uma prova perfeita, mas garanto ter me articulado muito melhor que nesse texto meia-boca que agora escrevo. Eu fiz as três questões da prova e tirei uma nota 3,5. Bom... muito aquém da minha expectativa, tendo em vista que acreditava ter feito uma grande avaliação. Não satisfeito com o resultado, resolvi procurar meus direitos como aluno da UFC.
Foi aí que descobri o Estatuto do Aluno da UFC e acabei verificando que eu não era tão burro assim (tsc...tsc...tsc...). Descobri que poderia pedir uma revisão de nota. Inicialmente, a revisão seria feita pelo próprio professor da disciplina, porém ele declarou, por telefone, já ter revisado a nota (procedimento que se deu em aproximadamente 3 minutos). Em seguida, iria para uma segunda instância, o Departamento, por meio de ofício, estava obrigado a formar uma comissão avaliadora com três professores da área para revisar a minha prova. Portanto, fui em busca do que acreditava e acionei meus direitos. Procedimento que não tinha prazo, mas que me fazia acreditar que poderia sanar um pouco da injustiça comigo feita.
Em meio à busca por esse processo, acabei descobrindo também outras fragilidades do processo de avaliação como um todo. Por exemplo, vocês sabiam que o professor tem a obrigação de devolver todos os trabalhos corrigidos? (Algo que não foi feito com os “péssimos" ensaios)... Vocês sabiam que o professor só pode passar outra avaliação após a devolução da anterior corrigida? (Algo que também não aconteceu, o que pode ter feito os estudantes cometerem os mesmos erros dos ensaios na AF)... Vocês sabiam que é preciso discriminar a pontuação que cada questão vale? (Isso também não ocorreu na AF, fazendo um aluno que fez 2 questões sair com uma nota 7,5 e eu que fiz três “abomináveis” questões ficar com um 3,5). Enfim, por aí já pode-se pensar como as coisas são feitas por aqui.
Sei das minhas limitações e sei da minha capacidade como estudante. Tenho o prazer de ter sido um dos articuladores do Grupo de Estudos e de ter ajudado muitos colegas a estudar e fazer uma boa prova. Sabia o que estava fazendo e outros que leram a mesma prova que fora tão desclassificada, concordaram comigo (os leitos foram alunos e também professores!). Não posso acusar ninguém de nada... Mas vamos parar um pouco para pensar... Nunca tive vocação para mártir... E não admitia... Nunca me liguei a esses aspectos excessivamente academicistas e, portanto, não estava nem aí para a reprovação. Agora não escondo a minha indignação, pois tive certeza de que não fui avaliado corretamente.
Quando pedi a comissão revisora, não pedi nada mais que uma correção justa com o que escrevi. Desconsidero todo o meu histórico, mas eu nunca havia ficado sequer de AF e, de repente, alguém me colocava em prova como um péssimo aluno. Fui à busca do que acreditava e também confiei naqueles que releram minha prova e constataram o que havia acontecido comigo.
Porém, o nosso reino das fábulas nunca cessa de novas histórias e, de repente, não mais que de repente, o inusitado professor nos comunica, via correio eletrônico, que ele decidiu “rever” as notas de todos os alunos. Disse que havia verificado as notas da disciplina de Pensamento Social Brasileiro e então para reparar a injustiça e para amenizar a rigorosa correção que ele nos impôs, resolveu utilizar os mesmo critérios da professora da citada disciplina. Sabe o que ele fez? O mesmo que ela: deu notas 10 para todos os alunos!
Bom, foi nessa hora que eu descobri que o meu ofício havia sido rasgado. Foi nessa hora que eu compreendi um pouco da psique do nosso professor de Pensamento Político Brasileiro. Parei para pensar que ele poderia ter um pouco de razão em parte dos que nos fez. Como ele poderia explicar uma disparidade tão grande entre as duas notas? E, inclusive, ele pode até se perguntar agora quase no natal: Quem vai pedir revisão de notas quando se tira um 10 na média? Quem? Ninguém, professor. Ninguém. É tudo o que a mediocridade citada no início do texto desejava.
Um grande erro dele foi tentar justificar um erro com outro. Tentar reparar-se de alguns excessos com uma aberração enorme. É realmente para se pensar um pouco sobre o que já escrevi no outro tópico. Afinal de contas, como estamos sendo avaliados? Como pode uma professora que pouco pisa no Departamento, sorrateiramente, aplicar uma dez de média para todos os seus alunos, sem sequer avaliá-los de nenhuma maneira? Como pode ela dizer que faltei seis vezes (verificado no módulo acadêmico), se ela nunca fez chamada? O que aprendemos em sua disciplina... E você, professor... Por que fez o mesmo? Sei que se indignou ao ver a atitude de sua colega, mas por que o fez? O que queria nos dizer com isso?
Enfim, companheiros, até agora não entendo como dormi com um 4,5 de média e acordei com um 10. Queria muito compreender isso. Adoraria ter sido avaliado justamente, como acredito nunca ter sido. Queria entender a disparidade entre uma correção de uma pessoa e de outra. Falamos de coisas diferentes? Será que quando falamos em critérios estamos indo realmente do Oiapoque ao Chuí? Bom... novamente, digo: é para se pensar.
E nós, a partir de agora, o que faremos? Vamos entrar nessa lógica de disputa atrás do IRA mais alto e mais cintilante? Vamos realmente crer que um aluno tem mais potencial que o outro, pois em seu histórico consta um dez, após saber desses casos que aqui contei. O mais importante: desde quando isso ocorre em nossa Universidade? Arbitrariedades acéfalas, como diria uma queria professora de todos nós. E sabem de uma coisa, apenas hoje venho dar razão a ela.
Como diria um grande compositor de nossa terrinha: “tudo muda e com toda razão”. Acho que esse é o momento de proporcionarmos a mudança. De repensarmos nossa vida como estudantes de Ciências Sociais, como estudantes da Universidade Federal do Ceará, mas, sobretudo, como cidadãos. Não podemos nos submeter a esses (des)planejamentos. Temos que começar a reivindicar mudanças na qualidade da avaliação, clareza dos critérios, no cumprimento dos direitos dos estudantes e, principalmente, no respeito ao próximo. Até por que, é importante lembrar, pois muitos esquecem: os alunos também são “o próximo” em relação ao professor.
Creio que é hora de darmos um basta nessa idéia de que eles possuem a luz e nós somos meros aparelhos repetidores e refletores, até que um doutorado nos salve e nos dê voz. Até quando vamos tolerar isso? Espero que não dure até o semestre que vem. Não somos rivais dos professores. Não somos inimigos, mas pessoas que desejam trocar experiências e fazer do aprendizado como algo dialético. É hora de buscar esse equilíbrio e essa compreensão.
Proposições? Sim. Acho que podemos pensar em fazer uma sondagem geral com os estudantes do curso acerca dos critérios de avaliação aplicados por aqui. Creio que a idéia do questionário não vá ser suficiente, mas já vá contribuir bastante para o mapeamento de tudo isso. Porém, acho que um grande debate já no início do semestre seja o meu grande desejo. Chamar todos os alunos para uma grande assembléia para pensar sobre o nosso futuro. Pensar como estamos sendo avaliados, desde o ENADE (sim), mas também nos nossos fichamentos e seminários.
Devemos pensar quanto vai estar o nosso IRA ao fim do curso? Sim. Infelizmente. Mas eu preciso que todos os que tiveram paciência de ler até aqui comecem a pensar em o quanto vai estar o caráter até o fim curso... o quanto vai estar o nosso aprendizado até o fim do curso... o quando vai estar o nosso compromisso com sociedade até o fim do curso... o quanto vai estar a nossa idoneidade até o fim do curso... e, principalmente, o quanto estamos preparados para viver ao fim desse curso. Quando fala viver, me refiro a VIVER EM VERDADE, algo que por aqui ainda não fazemos a menor idéia.
Um grande abraço a todos e espero que me desculpem os excessos... mas se até eles (os iluminados) podem ser pessoais, eu também posso me dar ao direito.
Beijos e Beijas...
“Não cante vitória muito cedo, não... Nem leve flores para a cova do inimigo”. Belchior

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vago impreciso...

Começa assim
Um vago impreciso
Preenchido pelo som do vazio
Agudo e frio
Como ir a um chão de terra
Estava descalço
Sem calço
Sem apoio
Era voz trêmula
Que me gritava e sentia um alívio
Ela só diz que fui
Só diz que sou
Mas para ela, ela não é
Me dói tanto
Que nem dói mais
É apenas frio
Sou apenas só
Eu
Resplandece na minha cor
Vermelha
Ao vê-la
Escuto:
- Me deixa!
Deixo
Fique
Éramos
Vagos, mas juntos
Juntos... nas juntas...
Até, então
Então, até
Um amor que soltou ao mãos
Um jeito de fugir a pé